«Foi o desvio amoroso por essa louçania de corpo delgado que deu origem à poética lenda com que se explica a toponímia da bucólica aldeia de tão sugestivo nome: aldeia de Amor - nos arredores litorâneos de Leiria.. Em seus passos de Leiria a abandonada real sofria com a suspeita dos devaneios del-Rei nas furtivas saídas do baiozinho para as bandas do litoral, porventura com o pretexto de inspeccionar a enorme floresta em que pusera tão subido interesse e donde não voltava se não tardiamente e a más horas...
Ora numa noite de lua nova, regressava o enamorado do seu abrigo de amor quando, no meio da escuridão, começou a ver surgir ao longo dos caminhos, ígneos e fantásticos vulcões de fogo, lumes espectrais que misteriosamente se erguiam e desfaziam no negrume da noite, espantando o baiozinho amedrontado e o cavaleiro que vertiginosamente corria em alucinante desfilada. Quando à chegada do palácio, ainda deslumbrado pela perseguição das chamas, El-Rei desmontou da sela do cavalo cujos músculos tremiam nervosamente sob a pele crispada e alagada de suor, deparou com Santa Isabel que voltava de rezar matinas na igrejinha castelã da Senhora
da Pena. E contou-lhe, assombrado ainda pela maravilha, a aparição dos fantásticos fogachos por entre cujos clarões vinha de fazer uma corrida desvairada. E logo Isabel, com um sorriso tímido na ingénua luz do seu olhar: -Senhor! Decerto seriam luzes para alumiar os vossos olhos que tão ceguinhos andam de amor...»
(Cortez Pinto, Diónisos, Poeta e Rey).
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