Dos campos do Vale do Lis saem todos os anos toneladas de arroz, hortícolas e outros produtos frescos
Dos cerca de 2000 hectares que compõem o perímetro hidroagrícola do Vale do Lis, 1400 estão a ser cultivados, estima a Associação de Regantes e Beneficiários. O milho é a cultura que maior área ocupa (cerca de 700 hectares), mas destes terrenos saem também muitos outros produtos: alfaces, pimentos, bróculos, bacelos, tomates, arroz carolino e culturas forrageiras são alguns exemplos. Os subsídios concedidos pela União Europeia, a existência (ou não) de unidades transformadoras, as suas necessidades e as contingências de mercado ditam, directa ou indirectamente, o que se cultiva nestes campos. Longe vão os tempos da beterraba sacarina (para açúcar). E há quase uma década, o tabaco, que dominava a paisagem e assegurava o sustento de muitas famílias, começou a ser substituído pelo milho. Pomares de fruta, bacelos e hortícolas começaram também a ganhar terreno. Longe das estradas mais frequentadas do campo, junto aos cursos de água, a cultura de arroz no Vale do Lis passa muitas vezes despercebida. Mas há décadas que este cereal é cultivado, nomeadamente na zona das Sismarias, freguesia de Monte Redondo.
Nuno Guilherme, 44 anos, é um dos produtores (só há outro) de arroz carolino, a única variedade que se cultiva no Vale do Lis (as condições climatéricas da região assim o ditam). Tem agora 60 hectares, mais 14 do que há uns anos. A produção varia entre as quatro e as seis toneladas por hectare e é vendida à Nova Arroz. “Esta é uma cultura muito ingrata, devido à incerteza do clima”, diz este produtor, que também cultiva 30 hectares de milho.
Com cerca de 100 hectares, Uziel Carvalho é hoje o maior produtor deste cereal no Vale do Lis. Todo o milho que produz é para silagem, ou seja, vai ser triturado (planta e grão) para depois alimentar as vacas leiteiras da sua exploração. Tem ainda 130 hectares onde produz forragens (consociação de gramíneas com leguminosas). Há 12 anos que Fábio Franco começou a produzir alfaces no Vale do Lis. Tem agora 45 hectares (ar livre e estufas), onde cultiva variedades de valor acrescentado: chicórias, radicchio e icebergue, entre outras. Vende a sua produção à Campotec, da qual é sócio, e é aí que a maioria das alfaces são transformadas, dando origem aos chamados produtos de quarta gama, ou seja, prontos a consumir. O jovem produz actualmente uma média de 5,5 milhões de alfaces por ano. “A produção tem crescido porque a procura tem crescido”. Olímpio Elias é apontado como o segundo agricultor com mais área no Vale do Lis. No total cultiva cerca de 100 hectares, 40 deles com tomate para a indústria. Produz, em média, quatro mil toneladas por ano, conta ao JORNAL DE LEIRIA. O tomate é vendido à cooperativa Multitomate, que por sua vez o vende à Italagro, empresa situada em Castanheira do Ribatejo que tem accionistas japoneses. É transformado em concentrado e depois exportado para o Japão, onde é usado para a produção de molhos e outros produtos à base de tomate. “Esta empresa paga bem, mas é muito exigente, até porque consegue tomate da China a metade do preço. Mas prefere o nosso por ser de melhor qualidade”. Nesta matéria não pode haver falhas. “Temos um problema grave, que são os corvos Picam o tomate, o que significa que a carga é rejeitada se houver tomates picados”, explica o produtor, que se vê obrigado a ter dois homens por dia ocupados apenas em “espantar” estas aves dos terrenos e admite mesmo pôr fim à produção de tomate se o problema se mantiver. Entre o que é rejeitado pela fábrica e o que fica no campo, os estragos atingem as 200 toneladas. “Vou aguentando porque tenho um investimento de quase meio milhão de euros, entre equipamentos de colheita e tecnologia de rega (permite controlar as regas através de uma aplicação no telemóvel)”.
Em tempos, Olímpio Elias chegou a ter uma centena de mulheres por dia a colher tomates, mas teve de mecanizar esta operação. “A máquina recolhe em quatro horas o mesmo que as 100 mulheres num dia”. É que “a concorrência é enorme, porque há países onde o tamanho da propriedade é gigantesco e a rentabilidade é completamente diferente”.
Aos 68 anos, Joaquim Almeida é o maior produtor de bacelos no Vale do Lis. Dos 50 hectares que possui, 15 são ocupados com vinhas mães de porta enxertos e 10 com bacelos (1,5 milhões de pés). “É só mudar o bacelo daqui para o local pretendido, no ano seguinte já se produzem uvas”, explica o agricultor, que vende os seus bacelos a vários produtores da região do Douro, cujas uvas são depois compradas por várias marcas de Vinho do Porto.
Jornal de Leiria
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